No Solar Grandjean de Montigny, fotos desmistificam 10 anos da cena noturna de Rio e São Paulo
Por Sofia Andrade Lopes

Imagem: Claudia Pereira na exposição no Solar No raiar da noite. Créditos: Ana Beatriz Magalhães
A exposição “No Raiar da Noite” estampa as paredes do Solar Grandjean de Montigny, na PUC-Rio, dos dias 14 de novembro a 7 de dezembro. As fotografias de Ivi Maiga Bugrimenko e Ivan Nishitani, que acompanham a noite underground, formam, ao longo de 10 anos de registro, um acervo de 50 fotos no subsolo do museu. Com a curadoria de Chico Dub, a galeria busca distanciar as baladas noturnas e a música eletrônica da visão reducionista, que as tem como um desvio, para enaltecer o lado da expressão, onde se criam memórias e experiências.
A origem do título “No Raiar da Noite”, segundo os organizadores, sugere outro nascer. Na exposição, o raiar não vem do nascer do sol, mas da noite, que traz música, união, experimentações e sentimentos. O projeto busca transmitir que as noites underground e a música eletrônica estão longe da conotação negativa e preconceituosa empregada pela sociedade, e que nelas há cultura, moda, comportamento e arte. O curador, Chico Dub, exalta a efervescência e a diversidade presentes nas festas underground e ressalta como a liberdade e a expressão estão na essência dos que frequentam as noites.
— A música eletrônica, a festa e esse tipo de produção são os locais onde se renova a arte, de certa forma. É um ambiente super saudável, interessante, artístico, de produção de cultura. Independentemente ou não de querer sair para dançar, é importante reconhecer que é uma manifestação artística e, para além de ser uma manifestação artística, é uma manifestação político-social — afirma Dub.
Em visita à exposição, a professora e pesquisadora especializada em juventude, Cláudia Pereira, do Departamento de Comunicação, conta como pessoas de diversas realidades podem se conectar e se encontrar nesses locais que são, muitas vezes, marginalizados pela população. Ela também explica que festas underground são de grande importância para determinadas juventudes que não têm a liberdade de se expressar de forma livre, pois, às vezes, a vida se mostra hostil para eles.
— É um lugar onde as pessoas se encontravam para falar de música, para falar de arte, para dançar, para se vestir de um jeito muito próprio, para se sentir livre dentro desse espaço. Então, acredito que as festas ajudam nesse sentido, de transformar em um lugar de interação, de identidade, de troca e corporalidade — diz Cláudia.
Dub comenta sobre a experiência de andar pelos corredores do subsolo do Solar. As imagens, que não têm legenda, misturam-se entre si. A proposta é não seguir uma narrativa linear para que os 10 anos de registros de festas se confundam em uma noite e se percam para as sensações.
— Entramos nesse mérito da não documentação fiel para dar justamente essa ideia de que cada uma daquelas imagens poderia ser de qualquer noite, para criar essa espécie de confusão labiríntica, que é uma característica de uma boa festa. De você se perder dentro dela, na música e na experiência, metaforicamente. Então acho que isso está, de certa forma, um pouco implícito dentro da experiência da exposição — explica Dub.
Apesar de mera coincidência, o curador conta que o subsolo do Solar também se apresentou como uma oportunidade para aprimorar a imersão na experiência e sair da visão institucional das paredes brancas. A escada circular do antigo prédio leva até o andar subterrâneo pouco iluminado, com fotografias espalhadas pelas paredes rochosas e mofadas em cômodos pequenos, que deslocam a exposição da Universidade e levam os visitantes para dentro das imagens.
— As paredes são muito úmidas, então, trabalhamos também com um papel de menor qualidade, um papel que se aproxima do papel jornal, do papel do lambe-lambe. Porque é muito comum também você divulgar, colar cartazes de festas na rua. Então, quisemos nos aproximar dessa estética, porque é uma estética que tem a ver com o que está sendo mostrado.
Imagem: Exposição no Solar No Raiar da Noite. Créditos: Ana Beatriz Magalhães
Dub revela o desejo de realizar novos projetos na PUC-Rio. Ex-aluno da Universidade, ele explica que trazer as obras para o ambiente institucional foi uma oportunidade de o projeto ocupar novos espaços e propostas, além de possibilidade de diálogo com os jovens.

